Socorro! Meu bebê vai à escola!

Até não muito tempo atrás a criança era cuidada pela mãe ou o cuidado era compartilhado com a família: filhos mais velhos, avós, tias. Há alguns anos o cotidiano das pessoas foi alterando as relações de cuidado e educação de filhos, devido a fatores como o distanciamento geográfico (famílias morando longe e algumas vezes, migrando); a entrada da mãe no mercado de trabalho; a necessidade de satisfação pessoal/ profissional da mulher, entre outros. Essa realidade fez com que surgisse a necessidade do cuidado compartilhado das crianças com vizinhos, babás mais ou menos preparadas e creches.
A história da creches é, na verdade, a história de uma conquista. O termo francês, crèche significa manjedoura e essa foi a concepção predominante na existência das primeiras creches, relacionando ao caráter filantrópico, assistencialista do cuidado à criança. Posteriormente, por meio de lutas nas classes operárias, a creche passou a ser uma conquista das mães trabalhadoras das grandes fábricas, culminando em, hoje, a creche ser um direito da criança. Esse direito é regulamentado por diversos documentos oficiais brasileiros. Por exemplo, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) define que educação infantil deve ser oferecida em creches, para crianças de 0 a 3 anos de idade, e em pré-escolas, para crianças de 4 a 6 anos; nas Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (2001) consta que é dever oferecer às crianças uma educação adequada e voltada para a realidade da criança.

Os primeiros anos de vida da criança são cruciais para seu desenvolvimento. O potencial é grande e há que ser estimulado para maximizar os ganhos de habilidades em diversas áreas e é especialmente importante para crianças com necessidades especiais.

Crianças com Necessidades Especiais são aquelas que tem algum comprometimento na área física, na audição, visão, mental e das crianças que tem vários tipos de deficiências associadas. Essas crianças podem ter aumentado o risco para atrasos no desenvolvimento.
O risco para atrasos no desenvolvimento está relacionado com a presença de certas condições biológicas (deficiência, genética, prematuridade, ingestão de substâncias na gravidez), psicológicas (abuso, negligência, conflitos) e sociais (falta de recursos financeiros, suporte social). Crianças que passam por tais tipos de situações, ainda mais se associadas, estatisticamente apresentam maiores chances de manifestar problemas no desenvolvimento do que aquelas crianças que não vivenciam estas situações.
Na busca de estratégias para compartilhar a educação e cuidado da criança, a creche aparece como uma alternativa viável - um espaço organizado para receber crianças, com pessoal capacitado para atender crianças, utilizando materiais adequados para crianças, com propostas pedagógicas reconhecidas para educação de crianças. No entanto, a qualidado do atendimento em creches (públicas ou privadas- as escolinhas) vai depender de se -e o quanto- o espaço está organizado, o pessoal capacitado, os materiais adequados, assim como as propostas pedagógicas.

O Ministério da Educação indica os aspectos chaves para uma Educação Infantil de Qualidade. Na busca por tal qualidade, algumas questões precisam ser respondidas, como por exemplo:

A instituição tem autorização de funcionamento expedida pela Secretaria Municipal de Educação?
O alvará sanitário está afixado em lugar visível?
A instituição tem proposta pedagógica em forma de documento?
Reuniões e entrevistas com familiares são realizadas em horários adequados à participação das famílias?
Há reuniões com familiares pelo menos três vezes por ano?
Os familiares recebem relatórios sobre as vivências, produções e aprendizagens pelo menos duas vezes ao ano?
A instituição permite a entrada dos familiares em qualquer horário?
Existe local adequado para receber os pais ou familiares? E para aleitamento materno?
As professoras têm, no mínimo, a formação em nível médio, Magistério?
Há no mínimo uma professora para cada agrupamento de: 6 a 8 crianças de 0 a 2 anos? 15 crianças de 3 anos? 20 crianças de 4 até 6 anos?
As salas de atividades e demais ambientes internos e externos são agradáveis, limpos, ventilados e tranquilos, com acústica que permite uma boa comunicação?
O lixo é retirado diariamente dos ambientes internos e externos?
A instituição protege todos os pontos potencialmente perigosos do prédio para garantir a circulação segura das crianças e evitar acidentes?
A instituição tem procedimentos preestabelecidos que devem ser tomados em caso de acidentes?
Outros aspectos a serem considerados são amplamente apontados pela literatura científica da área:
  • Em relação aos espaços, é importante que sejam: amplos, diferenciados, próprio para atividades individuais e em grupo, que permita a circulação de equipamento de criança com deficiência (como cadeiras, por exemplo), que tenha acessibilidade dos espaços interno, externo, banheiro; que seja arejado e com iluminação adequada.

    Em relação à mobília, é preciso verificar se: existem em número suficiente, se estão em bom estado de conservação (sem pontas, lascas), se são do tamanho da criança, se existe mobília especial para criança com deficiência, se a disposição da mobília permite supervisão das crianças pelos adultos.

    Em relação às atividades, se há equilíbrio entre atividades livres, na qual a criança possa ter iniciativa e brincadeiras bem como as atividades dirigidas necessárias.

    Em relação aos aspectos emocionais, é importante observar se o ambiente oferece condições para promover a sensação de segurança, prazer e bem estar da criança, bem como observar se a criança se sente assim na creche.

    Em relação à linguagem, é importante estimular a linguagem da criança, por meio da criação de um ambiente propício para as crianças falarem, a equipe explicar o que vai ser feito, contar como foi feito, fazer perguntas, construir fantasias, exercitar e aprimorar a linguagem da criança. Desenvolver comunicação alternativa em caso de crianças com deficiência auditiva ou autismo, por exemplo.

    Em relação à atividades cotidianas na creche, é importante ter rotinas estáveis que esclarecem a estrutura e diminui as incertezas- a criança sabe o que vai acontecer em seguida. É importante verificar o conteúdo das rotinas e avaliar a pertinência para o desenvolvimento da criança.

    Em relação aos materiais, é preciso observar se existem materiais diversificados, se há variedade de formas, cores, tamanhos; se a quantidade é suficiente para evitar conflito entre as crianças; se estão bem conservados; se estão disponíveis para as crianças, inclusive as crianças com necessidades especiaias, se existe rotatividade dos materiais ou se são sempre os mesmos.

    Além desses aspectos é importante observar se a equipe da creche promove a diversidade (por exemplo, ter materiais e brinquedos que representem a diversidade
    etnias, idade, pessoas com Necessidades especiais, músicas, livros, costumes) se combante o preconceito, itervém em situações de preconceito ou violência (Bulling) junto às crianças com necessidades especiais, aquelas que usam óculos, órteses ou são obesas, por exemplo.
Outro aspecto importante a considerar é se a creche promove o envolvimento dos pais e cuidadores. A participação dos pais enriquece o trabalho educativo com a criança – desde cedo as crianças mostram melhores resultados acadêmicos quando seus pais valorizam e acompanham a vida escolar da criança. O papel da participação dos pais na creche também é importante para dar pistas aos professores sobre como lidar com a criança, adequar equipamentos e materiais para a criança com necessidades especiais, promover a integração da equipe escolar com demais profissionais que atendem a criança.
Ainda, há que se verificar se a creche procura ter relação com profissionais/ serviços que atuam com a criança, se segue recomendações destes profissionais e fazem modificações para atender as NE das crianças, pequenas e grandes.
Não existe creche perfeita. Mas pais melhor preparados para buscar uma creche de qualidade - ou a lutar por ela- tem melhores chances de encontrar um ambiente rico e saudável para o desenvolvimento de sua criança.

Lisandrea Rodrigues Menegasso Gennaro- Psicóloga